Texto de João N.S. Almeida.
Eros, inicialmente retratado nos registos da mitologia grega como um dos deuses primordiais, foi mais tarde sujeito a uma revisão: era, afinal, filho de Afrodite, sendo representado nesses registos mais tardios como tendo surgido já em papel secundário, de forma derivada da deusa maior do amor.
O deus nasce masculino, mas mais tarde é-lhe dada uma origem feminina. Isto pode ser explicado pelo efeito que tem a idade tanto nas pessoas como, aparentemente, nos deuses; se inicialmente se julgam gerados de si mesmos, mais tarde descobrem que têm origens biográficas concretas, em geral concebidas no caldeirão de fecundidade que é a massa feminina. Se, nos deuses, a atribuição de origem é posterior — dado que vivem, pelo que sabemos, vidas ficcionais — nas pessoas é o reconhecimento que é posterior. Supomos que os deuses vivam mais como as pessoas julgam que vivem.
Este dossier não pretende ser um exame meticuloso e extensivo da existência e dos objectos do erotismo. Antes, de acordo com o espírito fogoso, e logo fugaz, do deus e do conceito, é composto por retratos breves, tanto em forma textual como em fotografia. O leitor saberá juntar as peças que quiser e saber que fica sempre com uma forma inteligível e válida.