GATEKEEPING DA BADDIE

Uma nova língua — ou, em terminologia orwelliana, “novilíngua” — é hoje articulada pelos tenros e sumarentos lábios de muitos jovens promissores — desde os sempiternos infelizes adolescentes até aos jovens adultos, hoje alimentados com Playstation ao longo dos trinta e muitos anos. Este maravilhoso mundo vocabular, autêntica curiosidade zoológica, é constituído como uma sopa nojenta de disparates de linguagem, de vários tipos, com características entre as quais destacamos o apreço anti-orgânico pelos acrónimos (ou seja, de origem literata, oposta à linguagem falada), o carácter efémero das classificações em uso (dois terços desta terminologia irá para o lixo num prazo de seis meses/dois anos), o chupismo anglófono (cultura da qual também herdamos os esconsos compartimentos mentais), a disposição comportamental do tipo adolescente acossado (muito receio do próximo, muita sacristia), a inviabilidade deficiente de se transportarem registos escritos no teclado para a boca (se a adolescência já é problemática, imagine-se então com estas espécie de muletas partidas), e, por fim, o universo micro-tribal que quase todas estas expressões referenciam (curiosamente sem auto-consciência do mesmo, pois julgam-se universais). Parabéns aos intervenientes (já que criadores propriamente não o são) por terem transformado o vocábulo comum e falado entre toda a gente numa imitação aberrante de como os nerds falavam nos fóruns de Internet no início dos anos 2000.

P.S.: no caixote do lixo dos calões já encontramos “gear”, quase “dude”, “cowabunga”, “bazinga”, e outras deficiências labiais. Noventa por cento dos exemplos abaixo para lá caminham.

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