As ancas são uma das secções do corpo que envolvem uma zona para tudo o que diz respeito ao erótico fulcral: o ventre. Se no masculino são menos notórias, os seus aspetos relacionados com o movimento não são, porém, menos importantes: ambas as ancas, em movimento, sugerem independência de apêndices e sugerem ainda a independência de um outro apêndice. No caso da mulher, mais largas, incontornáveis, impossíveis de esconder: albergam o ventre, que alberga o útero, e são sinalizadores fundamentais desse núcleo de sexualidade. O seu movimento, por muito breve que seja, arrasta montanhas.
Destacamos, para começar, um ícone de Hollywood cuja pose e maneira de andar ficaram na lenda e não são susceptíveis nem de fácil explicação nem interpretação: falamos de John Wayne e da sua pose em contrapposto, que muitos dizem inteiramente na tradição da representação renascentista inspirada na época clássica, nomeadamente bem visível no David de Miguelângelo. Deixamos aqui um breve e interessante artigo sobre o assunto e uma obra sobre Wayne que desenvolve também um pouco esse tópico.
Lembramos aqui também exemplos de hipérbole da forma natural da mulher, proeminente na cintura, ilustrando com algumas recordistas da dimensão mínima possível do diâmetro da cintura, que só ajuda ao destaque das ancas logo abaixo. Esta formatação esteve em voga há alguns séculos atrás, na Europa, e até nos Estados Unidos, mais recentemente, com corpetes desenhados para obter esse efeito.
Por último, lembrando que o agitar das ancas é sempre um desvio em relação à sua posição de repouso, apresentamos uma versão do género “erotismo atabalhoado”. No caso deste, é provavelmente necessária uma reunião de circunstâncias muito específica para que funcione. Este é Elvis Presley no programa de tv de Milton Berle, em 1955, improvisando um ritmo mais lento após o rock o ter tornado mais rápido.
Elvis Presley chegou a uma sociedade do pós-guerra que estava pronta para vários tipos de libertação mas ainda não sabia bem como fazê-lo. Intuindo de forma admirável o que se passava, o autor de rock deu literalmente novos corpos à música, pois as raízes eram até então pertencentes às comunidades negras, e trouxe-a para o público em geral, que ansiava por novas expressões. De facto, estamos no tópico das ancas, mas introduzimos aqui este parêntesis que na verdade mereceria por só um capítulo inteiro. Na definição de David Lynch, que transcrevemos a seguir, foi um novo mundo (na continuidade do velho).
“I remember discovering rock ’n’ roll when I was a kid, too. Rock ’n’ roll makes you dream and gives you a feeling, and it was so powerful when I first heard it. Music has changed since the birth of rock ’n’ roll, but the difference isn’t anywhere near as great as it was when rock ’n’ roll came in, because what had preceded it was so different. It’s like it came out of nowhere.”
“Rock ’n’ roll is a rhythm and it’s love and sex and dreams all swimming together. You don’t have to be young to appreciate rock ’n’ roll, but it is kind of a youthful dream about reveling in freedom.”
David Lynch, Room to Dream, 2018