A máquina e a indústria, Ricardo Fortunato

Texto de Raquel Vaz.

A revolução industrial trouxe-nos o magnífico tropo do automatismo para as nossas vidas laborais e domésticas. Dizemos tropo pois, até então, só na guerra, na arte e na mania é que repetir incessantemente o mesmo processo era de algum modo útil ou interessante. Pós revolução industrial, tornou-se necessário. Mergulhados nesse fanatismo, na compulsão originária da criação, vimos as máquinas repeti-la. Assim, entre lubrificação, rodas dentadas casadas com outros mecanismos, o metal namorando o metal – namorando não, fornicando, poder-se-ia dizer – a grande paisagem que na arte ficou conhecida por futurismo e na vida quotidiana por fábrica levantou-se. 

Podemos assim desempoeiradamente admitir que o mundo das máquinas, das engrenagens, dos óleos lubrificantes, do movimento, do automatismo e da força é um mundo recheado de erotismo. Desde o advento da indústria que os artistas repararam nisso: apesar da náusea que certos sub-produtos da mesma levantaram (poluição, exploração laboral, etc.), a máquina tornou-se companheira do homem e em grande medida sua igual. Os poetas futuristas (Marinneti, Álvaro de Campos, até certo ponto Ezra Pound) não tiveram pejo em fazer uma apologia da grandeza da máquina, rendidos, quase masoquisticamente, à sua superioridade. É ainda dentro do ciclo temático sobre o erotismo que recomendamos recordarem esse movimento e lerem muitos livros ilustrados com fotografias de fábricas activas ou abandonadas. Vejam aqui e aqui.